quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DISCURSO DE POSSE DE UM PRESIDENTE


Senhor Presidente,
Srs. Ministros,
Muitos são os caminhos para a conquista do Poder. Viciosos, porém, se me afiguram todos aqueles que se apartam do voto do povo, deitado nas urnas soberanas.
Percorri a estrada legítima. E, por isso, a Justiça Eleitoral do meu país, mais uma vez, proclama esta verdade simples: a democracia só se define, só se afirma e consolida através do VOTO.
É o direito à opção que faz os cidadãos responsáveis e as nações poderosas e permanentes.
Serei administrador dos interesses coletivos, se não foi longa a minha jornada, foi ela suficientemente áspera para ensinar-me que a Justiça não é apenas um dos Poderes da República, mas constitui, isto sim, essência desse mesmo regime.
Não há justiça onde as prerrogativas inalienáveis da condição humana possam ser POSTERGADAS POR MINORIAS QUE SE AFIRMEM PELA FORÇA DE UM PODER OCASIONAL.
Nesta hora em que países e povos secularmente dominados se levantam e se libertam da opressão colonialista, minha eleição para a presidência tem um aspecto que merece destaque na história: a oposição chega ao governo em obediência à vontade popular expressa no pleito.
O sentido dessa vitória é a condenação final e derradeira à política que conduzia ao Poder os candidatos escolhidos pelas cúpulas permanentes instaladas na administração do país.
O povo brasileiro pôs fim a um esquema inadmissível que a fortuna e os privilégios de alguns desejavam se perpetuasse.
Contra poderosos, contra interesses mesquinhos e particularistas, pelo próprio viço da sua natureza ética, pela própria armadura moral dos seus componentes, conseguiu finalmente esta instituição atingir aquele grau de isenção e solidez que faz dela, a um tempo, símbolo e sustentáculo das garantias constitucionais vinculadas ao exercício do voto.
O aperfeiçoamento desta Justiça é a nossa grande conquista dos últimos tempos, aquela que mais fundamentalmente responde pela verdade, pela pureza, pela segurança do sufrágio.
Meus Senhores!
O preço da liberdade, que o voto dos meus patrícios me outorgou, é a servidão à causa pública. Dentro da lei e em estrita obediência à lei, serei livre para impor e exigir de todo o exato cumprimento do dever.
Dessa liberdade, faço a minha escravidão.
VOCÊ SABE QUEM PROFERIU ESTE DISCURSO E QUANDO?
Foi Janio Quadros em 1961.
Será que alguma coisa mudou de verdade, desde então?

Nenhum comentário:

Postar um comentário